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terça-feira, 24 de maio de 2011

A Bíblia e os gays.

Ministério Igreja Sem Fronteiras
Departamento de Unidade Cristã

          Corpo da Igreja
         
          Com os recentes movimentos em prol da união homoafetiva, é natural que surjam opiniões das mais diversas, vindas do segmento religioso ou de fora dele.
          Natural também é o aparecimento de citações bíblicas por aqueles que colocam um texto fora do contexto e que acaba virando um pretexto. Até Jesus poderia ser chamado de glutão e beberrão, se pegássemos textos das Escrituras sem o devido conhecimento completo dela.
          Não entendíamos o porquê do slogan do Pr. Silas Malafaia, ao se posicionar contra o PLC 122/2006, em incluir o texto "e contra a pedofilia", além da defesa da família, da liberdade religiosa e da liberdade de expressão. O que teria a ver homofobia com pedofilia, afinal?
           Pois bem, leia o texto abaixo, vindo de alguém em que poderíamos pensar ser um entendedor das Escrituras e do caráter de Deus, alguém que estudou bastante e trabalhou no ramo, digamos assim. Mas, para viver em Deus, cremos que não basta fazer cursos, ser letrado nas Escrituras e trabalhar no ramo, e não ser guiado pelo Espírito e d´Ele receber as revelações.
          Pois bem, o Frei Betto afirma não haver nenhum problema quando o assunto é o Amor: vale tudo, não é? Afinal, o amor está acima de tudo. Então, para que condenar pedófilos e reprovar o amor entre irmãos, entre filhos e pais, além das mais diversas formas de expressão do amor?
          A igreja não está excluindo os homossexuais e muito menos deixando de amá-los, como pessoas merecedoras da Salvação e de serem tratados como Filhos de Deus, e também não está condenando a conquista de direitos civis. Não é contra, tampouco, em relação à homofobia, apesar de já existir respaldo legal no ordenamento jurídico vigente.
          Não aprova, porém, a sua prática, que está muito claro na Palavra de Deus:

          "Por isso, Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração, para desonrarem o seu corpo entre si; pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém!
          Por causa disso, os entregou Deus a paixões infames; porque até as mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por outro, contrário à natureza; semelhantemente, os homens também, deixando o contato natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição do seu erro." (Romanos 1.24-27)

          Reportar-se à Davi e Jônatas, como já tornou-se praxe, é querer justificar o "texto fora do contexto". Sendo assim, Davi era bissexual, pois também cometeu adultério com Bate-Seba. Ora, ora, mas tudo em nome do amor, não é, Frei Betto?
          Glória a Deus pelo arrependimento sincero e pela misericórdia do Senhor, pela qual tornou possível a descendência vindoura em Salomão e posterior chegada de Jesus.
          Outra questão é o erro em comparar e trazer tudo que se faz lá fora para dentro do nosso país. Afirma-se que essa questão da união homoafetiva é amplamente praticada e defendida nos países europeus, e sabemos também que nesses países o povo está gelado no que se refere a fé em Jesus Cristo: causa e efeito.
          Pois bem, cremos que a posição da Igreja é a de velar pelas verdades bíblicas, independente de favorecimentos pessoais e de questões intelectuais (filosóficas). Lógico que sem a devida condenação, mas, ao mesmo tempo, sem achar que podemos acessar Deus, Suas promessas e Seu poder, andando da forma que achamos ser a correta para cada um de nós. A Palavra é uma só para todos!

          Segue abaixo o artigo de Frei Betto, na coluna Opinião, do Jornal O Globo.

OPINIÃO
Publicada em 23/05/2011 às 16h14m
Por Frei Betto

           É no mínimo surpreendente constatar as pressões sobre o Senado para evitar a lei que criminaliza a homofobia. Sofrem de amnésia os que insistem em segregar, discriminar, satanizar e condenar os casais homoafetivos.
          No tempo de Jesus, os segregados eram os pagãos, os doentes, os que exerciam determinadas atividades profissionais, como açougueiros e fiscais de renda. Com todos esses Jesus teve uma atitude inclusiva. Mais tarde, vitimizaram indígenas, negros, hereges e judeus. Hoje, homossexuais, muçulmanos e migrantes pobres (incluídas as "pessoas diferenciadas"...).
          Relações entre pessoas do mesmo sexo ainda são ilegais em mais de 80 nações. Em alguns países islâmicos elas são punidas com castigos físicos ou pena de morte (Arábia Saudita, Irã, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Nigéria etc).
No 60º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 2008, 27 países-membros da União Europeia assinaram resolução à ONU pela "despenalização universal da homossexualidade".
          A Igreja Católica deu um pequeno passo adiante ao incluir no seu catecismo a exigência de se evitar qualquer discriminação a homossexuais. No entanto, silenciam as autoridades eclesiásticas quando se trata de se pronunciar contra a homofobia. E, no entanto, se escutou sua discordância à decisão do STF ao aprovar o direito de união civil dos homoafetivos.
          Ninguém escolhe ser homo ou heterossexual. A pessoa nasce assim. E, à luz do Evangelho, a Igreja não tem o direito de encarar ninguém como homo ou hetero, e sim como filho de Deus, chamado à comunhão com Ele e com o próximo, destinatário da graça divina.
          São alarmantes os índices de agressões e assassinatos de homossexuais no Brasil. A urgência de uma lei contra a homofobia não se justifica apenas pela violência física sofrida por travestis, transexuais, lésbicas etc. Mais grave é a violência simbólica que instaura procedimento social e fomenta a cultura da satanização.
          A Igreja Católica já não condena homossexuais, mas impede que eles manifestem o seu amor por pessoas do mesmo sexo. Ora, todo amor não decorre de Deus? Não diz a Carta de João (I,7) que "quem ama conhece a Deus" (observe que João não diz que quem conhece a Deus ama...).
          Por que fingir ignorar que o amor exige união e querer que essa união permaneça à margem da lei? No matrimônio são os noivos os verdadeiros ministros. E não o padre, como muitos imaginam. Pode a teologia negar a essencial sacramentalidade da união de duas pessoas que se amam, ainda que do mesmo sexo?
          Ora, direis, ouvir a Bíblia! Sim, no contexto patriarcal em que foi escrita seria estranho aprovar o homossexualismo. Mas muitas passagens o subtendem, como o amor entre Davi por Jônatas (I Samuel 18), o centurião romano interessado na cura de seu servo (Lucas 7) e os "eunucos de nascença" (Mateus 19). E a tomar a Bíblia literalmente, teríamos que passar ao fio da espada todos que professam crenças diferentes da nossa e odiar pai e mãe para verdadeiramente seguir a Jesus.
          Há que passar da hermenêutica singularizadora para a hermenêutica pluralizadora. Ontem, a Igreja Católica acusava os judeus de assassinos de Jesus; condenava ao limbo crianças mortas sem batismo; considerava legítima a escravidão; e censurava o empréstimo a juros. Por que excluir casais homoafetivos de direitos civis e religiosos?
          Pecado é aceitar os mecanismos de exclusão e selecionar seres humanos por fatores biológicos, raciais, étnicos ou sexuais. Todos são filhos amados por Deus. Todos têm como vocação essencial amar e ser amados. A lei é feita para a pessoa, insiste Jesus, e não a pessoa para a lei.

FREI BETTO é escritor.

Fonte: Coluna “Opinião”, do Jornal O Globo. (http://oglobo.globo.com/opiniao)

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