( Folha de S.Paulo )
Jornalista: Fábio Pupo
24/10/19
- O ministro da Economia, Paulo Guedes, estuda a eliminação dos
patamares mínimos que estados e municípios devem aplicar em saúde e
educação. A mudança está na minuta da PEC (Proposta de Emenda à
Constituição) prestes a ser apresentada ao Congresso para mudar regras
fiscais e orçamentárias.
Hoje, a Constituição determina que estados devem destinar 12% da receita
à saúde e 25% à educação. Municípios devem alocar 15% e 25%,
respectivamente.
A União também tem pisos para as áreas. Com a entrada em vigor do teto
de gastos em 2016, o mínimo a ser aplicado hoje é o montante do ano
anterior mais a inflação. As discussões caminham para ao menos tirar a
correção, o que eliminaria a elevação anual.
O formato final do texto a ser enviado ao Congresso ainda está em discussão e, por isso, pode sofrer alterações.
Os pisos para as áreas devem representar um dos pontos mais polêmicos do
pacote, e o governo já prevê resistência de congressistas.
Por isso, parte do governo defende a Guedes que seja colocado no lugar
dos pisos um mecanismo com percentuais mínimos para saúde e educação de
forma global, somada.
Caso a sugestão dos técnicos seja acatada, seriam mantidos os patamares
de 37% (estados) e 40% (municípios) da receita para as áreas, de forma
somada.
Assim, governadores e prefeitos poderiam redirecionar os recursos
conforme a demanda local. Dessa forma, um ente da Federação com mais
idosos do que jovens poderiam destinar mais para a saúde em vez de
educação.
A avaliação na equipe econômica é que é preciso dar mais flexibilidade
aos orçamentos públicos e fazer com que Executivos e Legislativos pelo
país tenham mais poder sobre a destinação dos recursos.
A equipe econômica anterior, de Michel Temer (MDB), já reclamava das
amarras do Orçamento, afirmando que as diferentes regras adicionadas ao
longo do tempo o tornaram mais engessado, dando aos governantes menor
possibilidade de decisão.
Outro argumento para a eliminação dos pisos é que a medida não
necessariamente vai reduzir destinações a essas áreas. Apenas vai deixar
aos eleitos a decisão sobre o montante a ser aplicado —que até mesmo
pode ser maior do que os pisos exigiriam.
Para uma ala da equipe econômica, a manutenção de um piso para as áreas
pode levar a situações em que governadores e prefeitos gastariam apenas
para cumprir o mínimo, sem uma real necessidade, como em reformas de
escolas.
A revisão faz parte do conjunto de mudanças em regras fiscais e
orçamentárias planejadas por Guedes em um pacote chamado por ele de
pacto federativo, que deve ser contemplado em três PECs.
O objetivo principal do plano é desobrigar, desvincular e desindexar o Orçamento.
Na desvinculação, o objetivo é eliminar boa parte dos mais de 200 fundos
públicos que hoje recebem recursos e têm destinação ligada a objetivos
específicos.
É o caso do Funpen (Fundo Penitenciário Nacional), que tem de alocar
recursos para penitenciárias enquanto o poder público vê outras
necessidades na segurança pública.
Na desindexação, o plano é retirar a correção pela inflação de diferentes despesas.
Conforme a Folha já publicou e Guedes confirmou em audiência pública,
cálculos da Economia apontam que seria possível poupar R$ 37 bilhões com
a desindexação em um ano. Mas o número final pode ficar abaixo disso
com a retirada de medidas impopulares.
O pacto ainda prevê a criação do Conselho Fiscal da República, que vai monitorar a política fiscal no país.
O colegiado será composto pelos presidentes da República, da Câmara, do
Senado, do Supremo Tribunal Federal, do Tribunal de Contas da União,
além de governadores e prefeitos quando convidados.
Segundo trecho da PEC ao qual a Folha teve acesso, o objetivo do órgão é
salvaguardar a sustentabilidade das contas públicas, monitorar os
orçamentos, verificar o cumprimento de exigências constitucionais e
legais, expedir recomendações e comunicar ou providenciar a correção de
eventuais irregularidades.
A LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal), de 2001, já determinava a
criação de um conselho para acompanhar e aprimorar as contas públicas,
mas o órgão nunca saiu do papel.
Diante das discrepâncias em metodologias de estados e União
(principalmente para verificar o cumprimento de limites para gastos com
servidores), a equipe econômica colocou a criação do grupo como um
objetivo nesta gestão.
O pacote prevê ainda outras medidas, como mudança no repasse de recursos
para estados e municípios e acionamento de gatilhos para redução de
despesas.
Governo dá prioridade a quatro PECs pós-Previdência
Com
a aprovação da reforma da Previdência, o ministro da Economia, Paulo
Guedes, prepara os detalhes finais dos próximos passos de sua agenda.
Ele
e sua equipe trabalham com prioridade neste momento em quatro PECs
(Propostas de Emenda à Constituição), sendo três ligadas a regras
fiscais e orçamentárias (no chamado pacto federativo) e uma sobre
a reforma administrativa.
Guedes
vem chamando as medidas pós-Previdência de agenda de transformação do
Estado, uma série de iniciativas planejadas por ele que devem incluir em
um segundo momento também a reforma tributária.
Os textos do pacto e da reforma administrativa estão em fase final de
discussão e o ministério trabalha para divulgá-los na próxima
terça-feira (29).
Na
reforma administrativa, a PEC deve conter uma ampla mudança na jornada
do servidor, da seleção pública até a forma de vinculação com o Estado.
Também está previsto o enxugamento de carreiras no Executivo de 117 para
no máximo 30 e redesenho nas tabelas salariais.
A
proposta também deve tornar mais rígida a avaliação de desempenho e
criar um novo regime de vínculo entre servidor e Estado (intermediário
entre o estatutária, que prevê estabilidade, e o celetista).
Apesar
da PEC, outras iniciativas para tratar dos servidores serão
necessárias, até mesmo para a regulamentação do tema. Devem ser
necessários projetos de lei, revisão de decretos e outros atos legais.
Esse conjunto de ações pode ficar para depois do lançamento da PEC na
próxima semana.
Paralelamente, o governo ainda avalia outras medidas para reduzir despesas e abrir espaço no teto de gastos em 2020.
O
secretário de Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues, já
adiantou que governo planeja uma MP (medida provisória) para extinguir a
multa de 10% que empresas pagam à União sobre o FGTS do trabalhador ao
longo do tempo no caso de demissão.
Como
os recursos do FGTS apenas transitam pelo Orçamento antes de serem
repassados à administração do fundo, consomem espaço o teto de gastos.
Com a medida, podem ser liberados aproximadamente R$ 6 bilhões.
Também
está em estudo o congelamento da progressão de servidores no próximo
ano. Essa medida poderia poupar cerca de R$ 2 bilhões dos cofres da
União.
Já
a reforma tributária do Executivo deve ficar em segundo plano depois do
veto do presidente Jair Bolsonaro à criação do imposto de pagamentos
(comparada à antiga CPMF), base da reforma planejada por Guedes.
MEDIDAS DE GUEDES PÓS-PREVIDÊNCIA
Pacto federativo
Conjunto amplo de medidas que alteram regras orçamentárias e fiscais.
Objetivo é desobrigar, desindexar e desvincular o orçamento público,
dando aos governantes mais poder de decisão sobre os recursos. Patamares
mínimos para educação e saúde devem ser revistos. Pacote também
direciona mais recursos a estados e municípios. Prevê criação de
conselho com presidentes de Poderes para monitorar contas públicas. Deve
demandar três PECs
Reforma administrativa
Pacote que altera toda a jornada no serviço público, da forma de seleção
à progressão na carreira. Deve tornar mais rígida a avaliação de
desempenho de servidores. Vai demandar uma PEC e outros atos normativos
que podem ser criados posteriormente
Redução de despesas
Governo avalia outras medidas para reduzir despesas e abrir espaço no
teto de gastos no ano que vem. O secretário de Fazenda, Waldery
Rodrigues, já adiantou que governo planeja uma medida provisória para
extinguir a multa de 10% que empresas pagam à União sobre o FGTS pago ao
trabalhador ao longo do tempo no caso de demissão
Reforma tributária
Deve ficar em segundo plano depois do veto do presidente Jair Bolsonaro à
criação do imposto de pagamentos (comparada à antiga CPMF), base da
reforma planejada. Equipe refaz as contas em um grupo de trabalho que
estuda o tema. Proposta do Executivo foi fatiada e deve começar apenas
pela fusão de PIS e Cofins