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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

7º Domingo do Tempo Comum.

Ministério Igreja Sem Fronteiras
Departamento de Unidade Cristã

Caros Irmãos,
Assim como estamos realizando a leitura do Novo Testamento (veja roteiro em posts passados), a Igreja Católica também segue em suas liturgias dominicais uma ordem dos acontecimentos do ministério do Senhor Jesus aqui na Terra.
Por isso, colocamos abaixo a liturgia do “7º Domingo do Tempo Comum”, ocorrido em 20 de fevereiro de 2011.
Tenha uma boa leitura e medite nessa Palavra, em oração, pois o Espírito Santo quer revelar algo para você.

Neste domingo, a liturgia continua apresentando Jesus na perspectiva messiânica da plenitude do cumprimento da Lei e dos mandamentos de Deus. Sendo assim, o seguimento de Jesus exige inteira dedicação ao Reino de Deus. Por isso, a santidade dos cristãos é o diferencial diante dos valores do senso comum, já que o amor é radicalmente exigente. No entanto, não devemos nos esquecer de que essa perfeição depende da graça de Deus e não exatamente do esforço humano. Por isso Jesus pode exigir de nós um amor radical e transformador.

PRIMEIRA LEITURA (Lv 19,1-2.17-18):
 Leitura do livro de Levítico:

1O Senhor falou a Moisés, dizendo:
 2”Fala a toda a comunidade dos filhos de Israel, e dize-lhes: ‘Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo.
17Não tenhas no coração ódio contra teu irmão. Repreende o teu próximo, para não te tornares culpado de pecado por causa dele.
18Não procures vingança, nem guardes rancor dos teus compatriotas. Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor’”.

SEGUNDA LEITURA : (1Cor 3,16-23)
Leitura da primeira carta de Paulo os Coríntios:

Irmãos,
16acaso não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus mora em vós?
17Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá, pois o santuário de Deus é santo, e vós sois esse santuário.
18Ninguém se iluda: se algum de vós pensa que é sábio nas coisas deste mundo, reconheça sua insensatez, para se tornar sábio de verdade;
19pois a sabedoria deste mundo é insensatez diante de Deus. Com efeito, está escrito: “Aquele que apanha os sábios em sua própria astúcia”,
20e ainda: “O Senhor conhece os pensamentos dos sábios; sabe que são vãos”.
21Portanto, que ninguém ponha a sua glória em homem algum. Com efeito, tudo vos pertence:
22Paulo, Apolo, Cefas, o mundo, a vida, a morte, o presente, o futuro; tudo é vosso,
23mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus.

EVANGELHO (Mt 5,38-48)

– Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos:
38”Vós ouvistes o que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente!’
39Eu, porém, vos digo: Não enfrenteis quem é malvado! Pelo contrário, se alguém te dá um tapa na face direita, oferece-lhe também à esquerda!
40Se alguém quiser abrir um processo para tomar a tua túnica, dá-lhe também o manto!
41Se alguém te forçar a andar um quilômetro, caminha dois com ele!
42Dá a quem te pedir e não vires as costas a quem te pede emprestado.
43Vós ouvistes o que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo!’
44Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem!
45Assim, vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons, e faz cair a chuva sobre justos e injustos.
46Porque, se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Os cobradores de impostos não fazem a mesma coisa?
47E se saudais somente os vossos irmãos, o que fazeis de extraordinário? Os pagãos não fazem a mesma coisa?
48Portanto, sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito”.

* 38-42: Como se pode superar a vingança ou até mesmo a «justa» punição? O Evangelho propõe atitude nova, a fim de eliminar pela raiz o círculo infernal da violência: a resistência ao inimigo não deve ser feita com as mesmas armas usadas por ele, mas através de comportamento que o desarme.
* 43-48: O Evangelho abre a perspectiva do relacionamento humano para além das fronteiras que os homens costumam construir. Amar o inimigo é entrar em relação concreta com aquele que também é amado por Deus, mas que se apresenta como problema para mim. Os conflitos também são uma tarefa do amor. O v. 48 é a conclusão e a chave para se compreender todo o conjunto formado por 5,17-47: os discípulos são convidados a um comportamento que os torne filhos testemunhando a justiça do Pai. Sobre os cobradores de impostos, cf. nota em Mc 2,13-17.

Ser bom como Deus: amar de graça

O evangelho de hoje continua com a interpretação da Lei que Jesus propõe no Sermão da Montanha (cf. dom. passado). Jesus supera a justiça do A.T., que se guiava pela lei do "talião" (do "tal qual"), "olho por olho, dente por dente" (uma maneira de refrear a vingança ilimitada).

A posição de Jesus parece compreensível, pois pagando o mal com o mal nunca se sai do statu quo, da violência, da vingança. Mas o que Jesus quer é mais do que isso: dar mais do que nos é pedido e até amar os inimigos. Como é que se pode gostar de quem não se gosta?
Novamente, Jesus não pergunta se é possível. Só diz que deve ser assim, pois Deus é assim mesmo! Deus faz o sol surgir sobre bons e maus e a chuva descer sobre justos e injustos. Pois todos são os seus filhos. "Mas, dirá alguém, eu não sou Deus". E a resposta de Jesus: "Não és Deus, mas procura ser como ele: perfeito como teu Pai celeste é perfeito; então, serás realmente seu filho!"
Jesus não veio para facilitar nossa vida, mas para nos tomar semelhantes a Deus, mesmo se ficamos sempre devendo e sabemos que, por nossa própria força, nunca chegaremos a isso. Também não é uma questão de esforço, mas de amor e de graça. Uma vez conscientes de que Deus nos ama de graça (cf. Rm 5,6-8 e 1104,10.19), já não vamos achar estranho amar de graça os que não nos amam (mesmo se devemos combatê-los quando oprimem os mais fracos ... ). Se entendermos o amor gratuito, não vamos achar absurdo convidar os que não nos podem retribuir (cf. Lc 14,12-14). O amor de Deus é criador: cria uma situação nova, que não existia antes. Quando nos sabemos envolvidos nesse amor paterno criador e gratuito, seremos capazes de imitá-lo um pouco. Seremos, não por nosso esforço, mas por saber-nos amados, realmente os seus filhos. E almejaremos o dia em que a morte porá fim às nossas incoerências, para que Ele nos acolha plena e definitivamente.
Na 1ª leitura, encontramos juntos, já no Antigo Testamento, os mandamentos de não guardar rancor e do amor ao próximo (Lv 19,17-18; cf. Lv 19,35, o amor ao estrangeiro). Todos esses mandamentos se baseiam na mesma verdade: todas as pessoas são filhos do mesmo Pai. Poderíamos acrescentar o amor ao insignificante, ao pobre, ao marginal, amor este que serve de critério para ver se a nossa vida é compatível com a eterna companhia de Deus, nosso Pai (Mt 25,31-46).
A liturgia de hoje supõe, portanto, que estejamos imbuídos da consciência filial com relação a Deus. "Bendize, ó minha alma, o Senhor, e jamais te esquece de todos os seus benefícios" (salmo responsorial).
Na 2ª leitura continua a polêmica de Paulo com a sabedoria do mundo, por ocasião da divisão que a vanglória, o partidarismo e outras atitudes demasiadamente humanas causaram na comunidade de Corinto. Tal divisão é o contrário daquilo que o evangelho ensina. Reconhecendo o evangelho como única sabedoria válida, devemos dizer, com Paulo, que os critérios humanos são loucura diante de Deus. Paulo ironiza os coríntios, dos quais uns diziam: "Eu sou de Paulo", ou "de Apolo", "de Cefas" ou até "de Cristo" ... "Ainda bem que quase não batizei ninguém", observa Paulo, brincando (lCor 1,14). E mais adiante conclui: "Todos nós, apóstolos, somos vossos; e não só nós, toda a realidade da criação é vossa ... mas vós sois de Cristo, e Cristo de Deus" (3,21-23). Hoje ouvimos: "Eu sou de tal movimento, de tal 'teologia', de tal tradição". Mas não faz diferença: somos de Cristo, e Cristo, de Deus. Por isso devemos ser como Cristo e como Deus. Isto, porém, não o conseguiremos por um vaidoso esforço de nossa vontade, mas somente se nos deixarmos envolver no amor gratuito que Deus nos testemunhou em Jesus, dado por nós até o fim.

Ser perfeito como Deus!

Quem hoje pretendesse querer ser perfeito como Deus granjearia alguns sorrisos irônicos ... E, contudo, é o que Jesus ensina no Sermão da Montanha (evangelho). A vocação à perfeição "como Deus" é um tema fundamental para a vida de todo cristão - não só para os santos e beatos.
Na primeira página da Bíblia está que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança (Gn 1,26). Ele quer ver sua imagem em seu povo eleito, Israel: "Sede santos, porque eu, vosso Deus, sou santo" (1ª leitura). Pela aliança, os israelitas "são de Deus". Ora, Deus não quer envergonhar-se de sua gente. Por isso, quer que sejam irrepreensíveis, e uma das suas exigências é que eles não briguem entre si, não se matem em eternas vinganças etc. Numa palavra: que amem seus "próximos" (= compatriotas) como a si mesmos (Lv 19,18). Ora, ninguém entende como Jesus, o que exige essa pertença a Deus. Deus é o Pai de todos, de bons e maus, e ama a todos como a seus filhos. Então nós, seu povo, devemos também amar a todos, inclusive os inimigos! Assim nos mostraremos semelhantes a Deus e realizaremos a vocação de nossa criação.
O homem moderno (como o de todos os tempos) gosta de ser seu próprio deus. Em vez de querer ser semelhante a Deus, só olha no espelho ... Será por isso que existem inimizades tão cruéis em nosso mundo, a violência descarada das bombas atômicas, a violência "limpa" das "guerras cirúrgicas", a cínica exploração das massas populares? No mundo reina divisão, entre nações, religiões, classes sociais; até na Igreja ricos e pobres vivem separados. Onde existe esse amor ao inimigo que Jesus ensina? Pois bem, exatamente por causa dessas divisões, o amor ao inimigo é indispensável. Se todos estivéssemos perfeitamente de acordo, não precisaríamos desse ensinamento de Jesus! As lutas e divisões que são a matéria da História e que têm reflexos mesmo entre os fiéis não devem excluir o amor à pessoa, ainda que se lute contra sua ideia ou posição. As divergências tornam ainda mais necessário o amor - que consistirá talvez em mostrar ao "inimigo" que ele defende um projeto errado ou injusto ...
O ser humano realiza sua vocação de ser semelhante a Deus, quando ama a todos com o amor gratuito de Deus, sem procurar qualquer compensação. Por essa razão, deve empenhar-se de modo especial pelos pobres, estranhos etc. - e também amar os inimigos.

Do livro "Liturgia Dominical", de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

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