Hélio Schwartsman
SÃO PAULO - É complicada a perspectiva de intervenção na Síria.
Meu receio é o de que estejamos prestes a assistir a um espetáculo de
marketing militar, que visa mais a apaziguar clamores humanitários do
que a pôr um fim à guerra civil.
É claro que, sob o aspecto moral, uma ação seria em princípio
justificável. Interromper carnificinas é um imperativo ético que a
comunidade internacional deveria tentar colocar entre seus objetivos. É
difícil, entretanto, entender por que foi necessário esperar o uso de
armas químicas para tornar a intervenção iminente.
Não vejo grande distinção entre morrer envenenado ou metralhado. E, se
100 mil óbitos por armas convencionais não foram suficientes para levar
as potências ocidentais a agir, parece estranho que os mil cadáveres
adicionais façam tanta diferença. Podemos, é verdade, descartar essa
objeção como acadêmica e dizer que o gatilho da intervenção teria de vir
em algum momento e que ele finalmente chegou.
Isso nos leva à mais difícil questão de determinar o que deve ser feito.
Aqui as coisas ficam sombrias, pois não parece haver muitas
possibilidades de intervenção que sejam ao mesmo tempo eficazes,
duradouras e a preço aceitável para o Ocidente.
Não é tão óbvio como mísseis e bombardeios impediriam novos ataques
químicos (deixando para lá os convencionais). Os EUA e aliados poderiam
optar por derrubar o regime de Bashar al-Assad, mas tergiversam diante
do risco de ajudar sunitas radicais apoiados por ramificações da Al
Qaeda a tomar o poder. Estão ainda menos ansiosos para envolver-se na
lenta, cara e incerta operação de construir uma nação democrática. O
precedente do Iraque não anima.
Como não há um objetivo óbvio e factível, Washington deverá contentar-se
em lançar alguns mísseis, dizer que fez a sua parte e esperar que os
sírios resolvam a contenda. É mais fácil do que admitir que certos
problemas não têm solução.
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